sábado, 11 de junho de 2011

Desejo e reparação

O pássaro se sentia preso, apesar de sua gaiola ter grades de ouro e quatro centímetros de espessura, o que era suficiente para se ver o sol. Por essa razão, nunca entenderemos porque o pássaro foi achado do dia seguinte com uma corda do pescoço e cabeça torta, dando língua.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

3

A Vaca Maldita

Se chamava Tereza.
E poucos a amavam. Um ou talvez dois. Era maldita entre as vacas. Nem os desgarrados a queriam. Foi mugir no cimo da colina. Ha ha, dizia. A Vaca Maldita, como ficou conhecida.

quinta-feira, 24 de março de 2011

2

Getúlio, você vai no show do Iron Maiden?, foi o que leu. Perplexo, olhou bem na tela de mensagens rápidas, respirou fundo e respondeu:

Não.

terça-feira, 22 de março de 2011

1

Tive muito medo. Entrei no quarto de Bentinho e achei uma carta endereçada a Escobar. Ela dizia isso: Meu pai estava bêbado de novo. Eu odeio o meu pai. Por que não posso morar com você? Meu pai me chama sempre de irresponsável. Você não serve para nada, diz meu pai bêbado. Fecho a carta sem saber o que pensar. O quarto de Bentinho está revirado do chão ao teto. Ontem, ele saiu de casa. Meu filho me odeia.

***

Ligo a M. Quero vê-lo, marcamos na minha casa. Ele vem à noite, depois que sua aula acaba. M. me olha e me abraça. O que aconteceu?, ele diz. Eu choro. Conto a M. tudo o que disse e fiz. M. me olha com reprovação e pena. Tenho tanta vergonha de M. Tenho tanta vergonha de mim mesmo. M. me envolve. Seu abraço é um alívio. Meu peito perde todo o peso. Sinto M. M. me me abraça e beija, e novamente me sinto amado. Saudade. Bentinho foi embora não só da minha casa. Ele foi embora da minha vida. Eu choro.

***

Vou até a casa de Escobar. Lúcia me atende à porta, sempre gentil. Sim, Bentinho está lá. Posso entrar, pergunto. Ela me olha como se pudesse ver minha alma. Depois de um momento, diz, Sim, você pode. Eu entro. Bentinho está com um amigo. Ele me olha. Já me esperava. O amigo parece apaziguar as coisas. É um rapaz de cabelos castanhos muito bonito. Me lembra um homem que vi assassinado muitos anos atrás. Os olhos de Bentinho se cruzam aos meus. Como lembra sua mãe, penso. Tenho medo de perder você, quero dizer. Oi, digo. Sinto que acabei de morrer.

***

Bentinho tem sete anos. Estamos eu, sua mãe, Escobar e Lúcia numa pequena casa. O lugar se chama Esteves. Bentinho está no colo de Escobar enquanto Escobar conta uma história de monstros e sacis. Sinto muita ternura por Escobar e o amo ainda mais por amar meu filho. Minha mulher está ali perto. Eles me parecem uma família perfeita. Eu é que estou invadindo aquela família, enquanto lavo a louça do café. Até Lúcia, que pode ser a empregada. Mas agora eu estou sendo racista. Mando a mim mesmo que me cale a boca. Termino de lavar os garfos.

***

Disse ao Mascarenhas o que eu queria que ele fizesse em caso de minha morte. Ele me olhou do mesmo jeito que olham aos loucos. Mas isso não me dissuadiu. Mandei a empregada comprar chá verde pronto. É domingo, e M. está numa viagem acadêmica. Não sinto vontade de nada. Acho que vou assistir ao Faustão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Uma nação que pára

Quatro anos depois da controversa campanha em Deutschland, que terminou com a célebre arrumada de meia do meia Roberto Carlos, a seleção brasileira de futebol vai a mais uma Copa do Mundo Fifa, desta vez na South Africa. Mais uma vez, a nação pára para ver os canários nalém-mar a pleitearem mais uma estrela para o brasão da CBF. Pára mesmo. Aqui em Fortaleza, até os ônibus.

sábado, 29 de maio de 2010

Saudações Espaço, este blogue é para meus experimentos malucos. Ninguém deve vê-lo.